quinta-feira, 31 de março de 2011

Pés

É pé de quê?
É pé de limoeiro, moço.
De moleque
Descalço.
Bicando bola e pegando bicho no quintal.
Pé que corre mundo
Pé que vai buscar
Que se enfia na jaca
Que chuta baldes e paus de barraca
Pés que se esticam ao prazer
Pés que pisam onde não devem e depois desandam a correr
Pé que não se pega.

Planta dos pés,
Planta dos passos.
Passo à passo.
Passarão.

Até que os da galinha, sem pena começam a ciscar o rosto
E o pedante pé de antes pianinho agora baila sereno pelo salão
Pé de valsa
Pé no chão
Driblando o destino pros pés não finalmente juntarem
Aos pés dessa vida sem pé nem cabeça.


...

segunda-feira, 21 de março de 2011

Ao embate as consequências

E ao telefone tudo está decidido.
Não quero mais.
Você me faz mal.
O outro compra a idéia.
Pode ser...
Não, as coisas não vão terminar assim... não te conheci por telefone.
Encontremos

E ao caminho tudo se afervilha.
O penar do pesar na balança que balança as certezas.
Pois ninguém morre pela falta de alguém
Não nascemos juntos...

Seguem.
Concentram.

E ao seguir o longo percurso maior ainda é a reflexão
A maturação do fim
O discurso de despedida
A permanência do indefinido chega perto de extinguir e o pé firme marcha ao embate.
Marcha como se fosse à guerra
À toque de caixas
A cara de mau
As sobrancelhas sisudas e os dentes cerrados.

E ao abrir da porta o olhar emudece.
Beija?
Aonde?
Mãos perdidas e corpos bambeando desaguam num abraço.
Abraço longo remetendo a quando tudo começou.
Tudo que em sopro assobia ser ainda pouco
Mas acalma-se em breve tom.
Pois ainda está o tudo acabado.
Ou acabando
Ou nunca é tarde?

...

Sérios.

Vamos.
Diz tua história.
Terminemos com isso logo pois a vida tem que andar.
Da forma que for.
Olha como você é.
Olha o que você fez.
Olha o quanto eu sofro.
Olha o quanto eu chorei.
Olha...

... e ao fim veja que a gente se preocupa com coisas tão pequenas que nem conseguimos enxergar.
Daí ficamos assim
a nos mandar olhar.
A nos mandar.
A nos perder?

Pensam.

E ao extravasar da toda angustia outro abraço embola.
Agora nosso primeiro beijo como ex-o-que-fossemos.
Dado com mais paixão
Sim, pois ja que agora não somos mais... contém pecado.

E a essa vontade de amalgamar nossos corpos?
Serão enfim ex-corpos esses que toda manhã desembocam apenas em sorrisos?
Afinal somos o sorriso
E aos sorrisos, que só combinam com choros quando juntos na cara, uma chance.
Não.
Não acabou.
Aumentou.
Vamos em frente.

terça-feira, 15 de março de 2011

Ao Raul

Os amores fazem sangrar.
As paixões desvirtuam meu certo.
E então me permito seguir assim
Sem fim.
Sem certeza me prendendo à ilusões que só refletem enfim abandono.
E re-sangrar
E jorra o sangue que nem bom está pois a noite o fez ralo
o fez fraco
o fez nada pra apenas me manter triste.
Me fez nada pra rever amores
Me disse coisas que tenho medo de aos capetinos revelar.
Capetinos esses que apuram tal sangue
Com maldade e discórdia
Com saudades e dúvidas
Dissabor invisível
Eminente solução
pra curar o desconhecido.
Vence quem resgata o temor por amar quem não se deve
das garras de um sofrimento já condecorado em lágrimas.



...

domingo, 13 de março de 2011

Paineiras

E assim subimos.
Devagar transando os verdes das curvas do velho Cosme.
Entranhando a santidade da Teresa
Curtindo Ascurra
Silvestre
Adentrando a Tijuca em seu pleno parque apenas verdes
Cerzindo notas antigas canções bordavam.
Subimos
Subimos
Paineiras
Chegamos
Na vista.
Do alto
Abraços.
E relatar o sonho de voar é natural ao natural tão íntimo.
Floresta e abraços.
Ao abismo de montes o construído cravejado nos vales da cidade.
O mar é visto ao longe e lá iríamos num vôo rápido como o da borboleta.
Coitada?
Ela se encasula - e não enclausula- pra aprender a não ser mais só larva, que sim, bela é menos ela do que quando voará.
E no casulo aprende
E madura o poder voar.
Pois pra voar não bastam apenas os bons de coração
O algo mais assim precisará.
Tempo talvez.

Dinheiro talvez...

Veja, o Jockey.
Grandioso espaço,não?
Daqui de cima é um dos mais notórios, ó senhora.
Ora jogo, ora esporte?
Ora bolas, são cavalos.
E cavalos rendem bem.
Tá lá o Jockey... bem lembrando tempos de Gávea onde ao muro me quebrei.

Isso é prosa de outra hora.

Vem voando o passarinho.
É tucano?
Bicho preto de bico bonito, não tão grande de tucano, mas formoso bico.
Parece tucano.
Daí vê de longe.
Umas 7 ou 8 árvores á frente do mirante.
Voa pra lá, voa pra cá
Já agora a 5 ou 6.
Olha, esconde
Voa, voa...
Voa, olha...
E bem perto aqui no galho parou
Olhou agora firme.
Interagiu.
E esperou contemplando.
Tava na hora.

Sim.
Lá veio a neblina.
Subiu rápida turvando vista
Veio a nuvem em forma de nuvem
E nós dentro da nuvem
Não algodosa como cartum
nem gelada como uma frente fria
nem molhada
nem andina.

Vapor.

E se instalou um tempo tão bom
De branco
De dentro da paz
De dentro da nuvem
E dentro de nós
Tragada
Os bobos e o pássaro.
Que viram crianças brincarem
E chorarem depois de ao chão caírem
Ralarem
Joelhos
Gritarem de dor.
Gritaram na bica
Da água gelada
E a gente voltando
Pensando na vida
Levando pra frente
Levando aos pulmões nuvem que agora ao sangue
Reflete o barato da cidade vista de cima
Sentida do céu
Até, passarinho.