terça-feira, 28 de junho de 2011

Asas de Fogo

Asas de Fogo
(João Martins)

Se a vida preferir eu dou
um beijo em sua mão.
À benção, mão da vida!                
O céu beijando o chão
E a vida enfim dançando
rodando
distante
fingindo que me protegeu.
Promessa não cumprida

Eu quero enfim o amar;
Também me prometeu.
Eu quero descansar.
O problema não é seu
É meu
A vida é chão e eu querendo asas.

Ícaro voou com asas de cera
Cera que derretera perto do sol
Eu vou mergulhar com asas de fogo
No arrebol.
E ver lá do céu a dor tão pequena
Vou mais alto
Vou voar
Mas sem esquecer que a vida me espera
Quando eu voltar

Se eu voltar

Pra que voltar?


...

Desculpem aos parceiros a quem mostrei essas tantas primeiras, mas hoje as juntei nesse balaio.


terça-feira, 14 de junho de 2011

Luzcameração

Está tudo sendo filmado.
Há câmeras por todos os lados.
Para e olha o canto da marquise
Vê se de lá alguém não te espia.

Desvia.

Aos teus, pelos teus patrimônios me resta rezar.
Pedir pra que, então, meu Senhor nos proteja.
Que o mal ou a fome não nos permeiem qualquer dano
Mas tira esses olhos da rua, matuto!
Tira esses olhos de mim

Será que por causa das coisas as coisas nunca mais serão as mesmas?

Daí fica a rua assim, sem gente.
Sem ladrão, mas sem sossego
O glóbulo que tudo vê está sempre ali
Aqui
Lá.
E mesmo quem não faz nada de errado
Assim, quem sabe, pela noite...
Se sente intimidado com o monitoramento.
Pois tem gente quem ainda gosta de embrenhar-se pelos cantinhos obscuros da cidade.
Obscuros mas nem tanto...
Obscenos, mas filmados.

A rua do povo
O povo da rua
A rua sem povo
E o povo sem rua
Cerimônia entre eles... óbvio desconforto em cena.


Alô, direção:

Os entusiastas do "libera-geral" estão chegando
Estão transformando
De perto, longe, dentro e fora.
Tudo tão cafona que dá dó da gente mesmo.
Repensando em outros tempos.
Nosso mundo tão hi-tech
Pode ter graça nenhuma.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Eis a Esquina

Era todo o sábado e, na verdade, nem faz tanto tempo assim.
Caixa amplificada pra dar voz a viola
Lona azul para eventualidades do tempo
Banquinhos de plástico cambetas
Afoxé faltando miçanga
Cadê a palheta?
E lá fui eu com o meu banjo pra esquina.
Lá fui eu ver qual era
Lá fui eu aturar maluco
Lá fui eu pros braços do álcool
Conhecer o sentido da palavra saideira e suas lindas musas de fim de madrugada.
E se iniciava uma história remunerada à quinze mangos e um X-Tudo...

... o birinight, com muito apelo, arregado pelo patrão.

Naquela esquina conheci gente
Naquela esquina conheci música

São 5 ou 6 cantando.
Empunhando seus instrumentos em um bem comum
A liberdade em transe ao som do samba
Ali
Pra mim
na sua forma mais verdadeira; nos braços e bocas do povo.
Trabalhadores
Pais de família
Homens do mundo ali honrados bambas, batuqueiros ou de que quiser chamar.
Cantem também, meninas!
Sem olhar para o homem umas das outras, por favor.

Desce mais uma
Nasce mais um dia.
E os amigos do colégio, dali, da próxima esquina chegam de suas boates igualmente sóbrios.
Também novos.
Mas meu estágio não é engravatado às 8 na Rio Branco
É aqui no chão.
É aqui no centro das emoções
Claro.
E enfim são os meninos vendo o Catete clarear


Pensando bem já faz um bom tempo sim.

A esquina não é mais a mesma
Eu também não

Bom tempo que passa
E bem antes que a vizinhança jogue água ou ovos por o barulho estar demais a minha vontade é batucar na rua.
Onde o meu canto se asperou e minhas incertezas afloraram.
Onde o aprendiz iniciou a lição
Onde o orgulho fez um pequeno primeiro risco na branca e imensa tela que a vida -por favor- há de me continuar pintando.

E já fomos aos teatros!
Aos palcos e aeroportos.
Aos camarins e estúdios.
Aos ensaios e furadas.
Aos lugares mais bonitos e sonhados.
Nós
Diretamente da esquina pergunto para onde vamos.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

O fogo e a Cura

Quero que a poesia me leve
Me leve pra onde for
pois até hoje tem sido assim.
Que me leve ao Norte
Que me leve a sorte
Que me leve ao longe
Que me leve aí.
Pra te dar bom dia
Acalmar-te.

Quero que a força te abrace
Na calma
Na manha
Pra que tudo corra bem
Pra que entre passos ou sonhos sempre sejamos realidade.
E calma
E brandos.
Deus;
Força branda.

O fogo e a cura.
O fogo é a cura.
Queimará encraves
Sanará rancores
E os sonos serão mais tranquilos.
É o elo dos que se amam meditando e pescando ao tão confuso cosmos as puras e eminentes lágrimas de boa energia.

Há entre nós feiticeiros.
Quem sabe não sois?
Quem sabe quem és?
Então toda magia calará.
Baixarão.
Sem guarda.
Pra que no céu sem raios,
sem ondas de rádio,
sem mágoas nem pragas só ecoe amor pois esse é o natural.
O fogo é natural.
E o natural vem em bênção
sendo quem somos.
Vivendo e aprendendo
Querendo e rejeitando
Revivendo e conhecendo
Aceitando
Maturando.
Merecendo.

Cresce, flor
Rasga a terra, broto, ainda broto.
Busca a luz e tira onda.
Flora que ainda há tempo
e o tempo tá co'a gente.


...