Era todo o sábado e, na verdade, nem faz tanto tempo assim.
Caixa amplificada pra dar voz a viola
Lona azul para eventualidades do tempo
Banquinhos de plástico cambetas
Afoxé faltando miçanga
Cadê a palheta?
E lá fui eu com o meu banjo pra esquina.
Lá fui eu ver qual era
Lá fui eu aturar maluco
Lá fui eu pros braços do álcool
Conhecer o sentido da palavra saideira e suas lindas musas de fim de madrugada.
E se iniciava uma história remunerada à quinze mangos e um X-Tudo...
... o birinight, com muito apelo, arregado pelo patrão.
Naquela esquina conheci gente
Naquela esquina conheci música
São 5 ou 6 cantando.
Empunhando seus instrumentos em um bem comum
A liberdade em transe ao som do samba
Ali
Pra mim
na sua forma mais verdadeira; nos braços e bocas do povo.
Trabalhadores
Pais de família
Homens do mundo ali honrados bambas, batuqueiros ou de que quiser chamar.
Cantem também, meninas!
Sem olhar para o homem umas das outras, por favor.
Desce mais uma
Nasce mais um dia.
E os amigos do colégio, dali, da próxima esquina chegam de suas boates igualmente sóbrios.
Também novos.
Mas meu estágio não é engravatado às 8 na Rio Branco
É aqui no chão.
É aqui no centro das emoções
Claro.
E enfim são os meninos vendo o Catete clarear
Pensando bem já faz um bom tempo sim.
A esquina não é mais a mesma
Eu também não
Bom tempo que passa
E bem antes que a vizinhança jogue água ou ovos por o barulho estar demais a minha vontade é batucar na rua.
Onde o meu canto se asperou e minhas incertezas afloraram.
Onde o aprendiz iniciou a lição
Onde o orgulho fez um pequeno primeiro risco na branca e imensa tela que a vida
-por favor- há de me continuar pintando.
E já fomos aos teatros!
Aos palcos e aeroportos.
Aos camarins e estúdios.
Aos ensaios e furadas.
Aos lugares mais bonitos e sonhados.
Nós
Diretamente da esquina pergunto para onde vamos.