terça-feira, 23 de novembro de 2010

Frente Fria

O sol quer sair
Mas o céu não quer deixar
Manda nuvens pra prender
Manda chuva pra ecumbar
O sol em casa.

Fica então buscando um novo jeito
Pra esquentar os seus súditos
Justo.
Pois um astro - ainda mais o rei - merece e deve ser glorificado.
Glória em roupas leves
Em dias lindos
Em flores fortes
Suor caindo
Adoração.

É que fica ruim demais
Muito tempo sem ver luz
Sem o verdadeiro e quente afago que tange e tinge
Sem a força majestosa
Sem a graça do refletir

Nem as sombras aparecem
E o cinza é tudo enfim
Mas se bate o noroeste
Volta tudo a ser melhor
Da alvorada ao dia inteiro
Deixa, céu, o sol sair.
Tu também ficas mais belo
Sorri

Vire e mexe eu vou
Janelo
E pareces me ouvir.
Manda embora a frente fria
Vamos logo pro fervor!!!
Vem, verão!
Vem ver a vista
De roupas leves
De dias lindos
De flores fortes
Suor caindo


...

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Doce Ilusão?

Eles eram assim
Queijo e Goiabada.
Romeu e Julieta batizados.

Ele por ai.
Por dietas em meio à pães integrais, saladas capreses e peitos de peru.
Romeu, o branco insosso que ainda assim andava pelos bares da cidade servindo de aperitivo à bocas e madrugadas que talvez não devesse,
desembocando num acordar estragadasso.
Ressaqueado das delícias da noite.
Gorgonzola.
Mas jurava
Mais jurava
Rejurava tomar jeito.
Que ia ricotar e voltar tudo a algum normal.

E ela, ela
Julieta.
Fruta de pé na adolescência.
Madurando.
Sobrevivendo à pragas e agrotóxicos.
Até cozinhar na panela.
E sentir os calores do açúcar.
E ficar em ponto de doce.
Goiabada cascão.

Foi o encontro.
Coisa fina, sinhá, que ninguém mais acha.
Porque a gente fica assim. Querendo ser quem não é
Querendo que os outros sejam quem a gente não consegue ser.
Mas na verdade é tudo tão simples.
Como queijo com goiabada.

E viraram moda.
Estouraram nas paradas e na boca do povo.

Só que um dia, como dizem agora por ai, deu ruim.
E não teve tadinho.
E não teve culpado.
E não teve cuidado.
E o vaso quebrou.

Parece que a goiabada numas dessas voltas ao Sítio desconheceu-se.
Achou que era marmelada de banana
Bananada de goiaba
Ou talvez ela mesma... só que de marmelo.
E o queijo ficou sem ação.
Sem razão.
Sem chão.
Vendo toda a doçura azedar
Descombinando o paladar
Sentindo esvair como areia um sonho pelas mãos.

Fica a esperança.
Do queijo uma dia voltar a ser Romeu.
O eterno apaixonado que morreu por amor.
Indo além de qualquer zirimba de famílias.
Brilhando na história como o maior dos românticos.

Fictício

Fique cheese...

Pois a goiabada um dia cai na real
Foge dessa fuga
Dai quem sabe tudo volta a ser sobremesa.


...

terça-feira, 2 de novembro de 2010

...

Dizem que o melhor lugar pra chorar é no banho.
As lágrimas se tornariam apenas mais uma gota d'agua se esvaindo pelo ralo.
Mas os gritos da dor no banheiro ecoam mais alto
Mais forte
Penetra o sofrimento nos azulejos e em todos os cantos da casa.
Mudou o trajeto do trem.
Desplaneja-se
E chora-se então em outros cômodos
Em todos os cômodos.
Por todo tempo e a dor não para.

Foi coroada a tristeza
Ela impera com mãos e dentes de ferro
Dilacera.
Arrebenta implacável os frangalhos de resto de alma.
É nuvem ácida estufando a eminência das lágrimas
Mais lágrimas.

Agora com tudo desarrumado vem à mente em longos flashes o meu pior pesadelo
Aquele onde tento emergir do oceano
Onde estou no fundo do mar tentando uma fuga da falta de ar que me cerca
Nunca sei se consigo pois acordo covarde antes de morrer na certeza desesperada que faltava ainda muita água pra nadar.
Respiro enfim mas, desperto me falta a vitalidade que suplanta o ar e o desespero é ainda maior.

Como se acorda se a vida não é sonho?
Como se foge pra não afogar?
Como?

São dúvidas e não perguntas
e as dúvidas são mais confortáveis que as respostas.
Ponho-me a contemplar o mundo e vivenciar as suas dores que a idade traz.
Choque de realidade crua e complexa.
Ai, se eu tivesse gás.