Uma mão lavava a outra.
Cortava, pintava, cutilava...
Cuidavam-se!
Hidratavam-se, cozinhavam
Juntas faziam nascer o som...
De cavaco, percussão.
Piano, violão... Canções.
Tudo parceria das mãos.
Dirigiam, abriam portas e cortinas, digitavam, moldavam, criavam.
Desbelotavam, apertavam e acendiam.
Assimétricas, eram sim diferentes mas, ao mesmo tempo se bastavam.
Uma pra faca.
Outra pra garfo.
Uma pra soco.
Outra pra pincel.
Completavam-se desde o ventre.
Mãos aprendem e crescem juntas.
Um dia uma mão parece que mudou.
Acho que quis ser pé.
Andou distante da outra... a deixava sozinha, a deixava "na mão".
Não mais estalava os outros 5 dedos, só queria saber dos seus.
Bolos e mais bolos.
Só olhava pra própria palma sem ligar o mínimo pra sua velha companheira.
Parecia renegar que juntas eram o aplauso.
Se meteu entre outras pernas, acariciou outras cabeças, cutucou outras feridas.
Outros anéis, outra cor de esmalte.
Fantochou por outros teatros.
Demorou...mas a outra, conformada, uma dia enfim entendeu as mensagens, as pistas que lhe eram deixadas.
Se valeu da ambidestreza e penou para sozinha enfim dar conta das suas tarefas para bem viver.
Para melhor viver, seguir a sua missão.
Cansou de acenar.
Cansou de puxar para perto.
Desistiu da união até nas horas de oração.
E seguiu.
Como pirata sem gancho.
Fazendo figa, enfrentando quiromancistas e manicures.
Batendo de porta em porta, punhetando e se dando às palmatorias.
O tempo se passou mas, uma da outra nunca mais se soube.
Por onde anda, se agora anda...
Se continua mão.
Se em luva se esconde, se a esmola se submete.
Só não se escuta mais o cavaco.
Nem o batuque.
Hoje escrevem outras histórias e espalham suas digitais por outras bandas e bundas.
Tapas leves.
Tapas levam.
Mas mãos dadas nunca mais por ai passearam.
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2 comentários:
Muito legal... realmente... a alma do poeta está na poesia... parabéns (:
Lindo! Me emocionei!
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